Imagina ligar a TV e não se ver em nenhuma narrativa ali apresentada. A ausência de representatividade amarela no audiovisual é um problema persistente e que afeta profundamente os adolescentes, especialmente aqueles de ascendência asiática. A escassez de personagens e histórias que reflitam suas experiências culturais cria um sentimento de invisibilidade e desvalorização. A falta de representação pode levar a um impacto negativo na autoestima e no senso de identidade desses jovens, levando-os a questionar sua relevância e pertencimento na sociedade. A representatividade amarela no audiovisual é crucial para garantir que todos os adolescentes se vejam representados e respeitados, permitindo-lhes crescer com confiança em suas identidades e contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva e empática.
A série brasileira-coreana “Além do Guarda-Roupa”, disponível na HBO Max, nos presenteia com uma história cativante sobre Carol (Sharon Cho), uma adolescente de 17 anos com ascendência sul-coreana. A protagonista, uma jovem paulistana, teve uma infância marcada por perdas, pois perdeu a mãe muito cedo e foi abandonada pelo pai, que partiu para a Coreia do Sul, nunca mais retornando. Essas experiências dolorosas fizeram com que Carol nutrisse uma relação conflituosa com sua origem asiática, rejeitando inclusive o fenômeno global do K-pop.
No entanto, o destino reserva uma surpresa extraordinária para Carol. Em um certo dia, ela descobre que seu guarda-roupa é, na verdade, um portal mágico capaz de conectar seu quarto com o apartamento do ACT, o grupo de K-pop mais badalado do momento. A partir dessa descoberta inusitada, sua vida passa por uma reviravolta emocionante, repleta de aventuras, amizades, amor e, especialmente, o processo de reconexão com sua descendência sul-coreana.
O enredo de “Além do Guarda-Roupa” é um convite para acompanharmos a trajetória de Carol, enquanto ela mergulha em um mundo novo, repleto de elementos da cultura coreana, incluindo música, dança e tradições. O contato com o ACT, cujos membros se tornam amigos próximos de Carol, desafia suas crenças pré-concebidas e a leva a questionar suas atitudes em relação às suas raízes.
O cerne da narrativa reside na jornada de autoconhecimento e aceitação que Carol enfrenta. Ao confrontar sua rejeição ao K-pop e à cultura coreana, ela começa a compreender que as marcas emocionais deixadas pelas perdas em sua vida contribuíram para a construção de barreiras que a impediam de abraçar sua identidade coreana. A série aborda de maneira sensível a importância de reconhecer e compreender nossa história familiar, e como isso influencia nossa formação como indivíduos.
Além disso, “Além do Guarda-Roupa” também traz à tona a temática da representatividade, ao apresentar uma protagonista de ascendência asiática. Esse aspecto é essencial para a construção de uma narrativa inclusiva e diversificada, contribuindo para a quebra de estereótipos e preconceitos, além de valorizar as múltiplas culturas presentes em nossa sociedade e, porque não, presentes no bairro em que a série foi gravada Bom Retiro em São Paulo.
A série não se limita apenas a entreter, mas também se destaca ao explorar as complexidades das relações humanas e dos conflitos internos enfrentados por muitos jovens em sua busca por identidade e pertencimento. “Além do Guarda-Roupa” nos ensina sobre a importância de abraçar nossa herança cultural e valorizar quem somos, independentemente das adversidades que a vida nos impôs.
Outro ponto de destaque é a representação da amizade e do amor como pilares fundamentais no crescimento pessoal de Carol. As conexões que ela estabelece com os membros do ACT a ajudam a encontrar apoio emocional e encorajamento para enfrentar os desafios que surgem em sua jornada. A série ressalta que é através da empatia e da solidariedade que podemos superar nossos medos e inseguranças.
Em suma, “Além do Guarda-Roupa” é uma série que transcende as fronteiras culturais, conquistando o coração do público com uma trama envolvente e mensagens poderosas sobre autoaceitação, respeito às origens e valorização das conexões humanas. Ao retratar a história de Carol, a série nos convida a refletir sobre nossa própria identidade e nos inspira a trilhar nossa jornada de crescimento pessoal com coragem e amor.
A cada episódio, somos lembrados de que, mesmo quando parece que nossas raízes estão perdidas em algum lugar além do horizonte, podemos encontrá-las ao olhar dentro de nós mesmos e perceber que nossa essência é uma mistura única de influências culturais que moldam quem somos, e essa diversidade é o que torna a vida verdadeiramente fascinante.
Os três primeiros episódios já estão na HBO Max e o restante sairá semanalmente.