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Crítica: Round 6 – Terceira temporada

Muitas obras discutem o limite da humanidade e até onde ela pode se vender. Mas nenhuma faz isso como Round 6.

Desde a primeira temporada, discussões sobre consumo, exploração, solidariedade, comportamento de manada e ganância, regadas a muita violência, são trazidas à tona por meio dos mais diversos jogos infantis. E a terceira temporada não é diferente, embora siga por um caminho mais pessimista, com foco maior na natureza humana.

A história acompanha os acontecimentos após a revolta frustrada liderada por Gi-hun (Lee Jung-jae), interrompida pelo Líder (Lee Byung-hun). Em um estado apático, Gi-hun é mandado de volta aos jogos e precisa participar das últimas provas, enquanto a guarda Kang No-eul (Park Gyu-young) continua sua batalha particular contra os ladrões de órgãos para resgatar o jogador 246 (Lee Jin-wook). Ao mesmo tempo, Hwang Jun-ho (Wi Ha-joon) tenta encontrar a ilha para confrontar seu irmão novamente.

Para começo de conversa, é possível dizer que o único núcleo que realmente tem algo a dizer é o dos jogos. Mesmo menos sutil que nas temporadas anteriores (e até redundante em alguns diálogos (por conta do algoritmo da Netflix, talvez?), o criador Hwang Dong-hyuk mergulha fundo no pessimismo para afirmar que o sistema e o mundo estão aí e não vão mudar, mas que podemos torná-los mais palatáveis por meio de pequenas ações solidárias e altruístas.

Isso pode ser bem observado por meio da bebê de Kim Juh-hee (Yu-ri Jo). Geralmente, crianças são a representação do futuro e da esperança nas obras em que aparecem, e aqui não é diferente. Todas as ações principais giram em torno da bebê, sejam boas ou ruins, o que aumenta a tensão e acrescenta um senso de urgência.

Um exemplo é a cena em que os outros jogadores descobrem que a bebê tomou o lugar de Juh-hee na competição. Em vez de se indignarem com o fato de uma criança participar de um jogo mortal, eles se irritam apenas por saber que terão que dividir o prêmio com ela.

Com isso em mente, a troca entre Gi-hun e o Líder se torna muito mais rica, aprofundando até o personagem de Lee Byung-hun. Com sutileza, entendemos que o grande chefe do jogo chegou até ali porque o sistema o quebrou de diversas formas, inclusive com a morte da esposa, que ele não conseguiu salvar mesmo com todo o dinheiro que ganhou. A ele restou apenas a saída de abraçar o próprio sistema que o destruiu. Escolha essa que ele propõe também a Gi-hun, que a rejeita a todo momento.

E é aqui que Byung-hun brilha. Sua atuação transita entre raiva e inveja, enquanto observa suas tentativas de transformar o protagonista em uma cópia de si próprio. Mas, ao fim, ele compreende e até absorve um pouco os atos de Gi-hun, chegando a entregar os pertences dele à sua filha.

Mas isso não significa que Gi-hun seja um santo durante toda a história. Mesmo demonstrando preocupação com o bem-estar de outros participantes, ele próprio acaba cedendo aos impulsos quando acredita que seu plano fracassou por culpa de Kang Dae-ho (Kang Ha-neul), o jogador 388, cruzando sua própria linha moral.

Menos sutil que seu algoz, Jung-jae demonstra com seu físico a degradação a qual seu personagem se coloca para entender que muitas vezes, as escolhas atuais moldam um futuro que muitos não estejam vivos para ver. No caso do protagonista, o fim dos jogos na Coreia, pelo menos.

Mas nem de boas ideias essa temporada foi feita. Os dois outros núcleos podem ser considerados como completamente disperdiçados. O roteiro foi muito hábil em criar as situações para a segunda temporada, mas na hora de unir as três linhas em um roteiro único ambas se perdem e não conseguem seguir o impacto da linha principal.

A parte da guarda Kang No-eul tentando de tudo para salvar o desenhista Park Gyeong-seok do jogo e fazer ele retornar à filha divide um pouco alguns dos temas centrais da temporada, como o fator da solidariedade ser o motor da sobrevivência e a culpa de crimes passados. Mas ele também tenta criar uma dualidade fajuta entre No-eul e o vice-lider que vem do nada e tenta emular a relação entre os personagens principais, por conta de eles serem da Coreia do Norte.

Já a trama dos policiais, essa foi uma decepção. Eles ficaram, como a Carol gosta de dizer, perdidos no churrasco, rodando em círculos com o capitão do barco (Oh Dal-su) e quando chega na ilha, também não há função para eles, uma vez que tudo já acabou. Parece que o roteiro não tinha ideia do que fazer com essa história e esqueceu ela ali, lembrando apenas no final.

Por fim, mesmo tendo algumas boas ideias que continuam da segunda temporada e prendem sua atenção no núcleo principal, a terceira temporada de Round 6 encerra a trama com claros sinais de fadiga. A obra mergulha de cabeça no pessimismo e sugere uma saída anticlimática e focada no contato humano real e no viver em sociedade. Deveria ser o sinal para a Netflix entender que o final criativo precisa ser o final real.

E você, o que achou do final? Conta aqui nos comentários.

Wagner Emerich Jr

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