Crítica: Chainsaw Man: O Filme – Arco da Reze

Antes de tudo, vou ter que confessar algo aqui: Eu não sou muito fã de animes com muito gore. Todo o desmembramento e a desimportância com o próprio corpo me tiram bastante da história, uma vez que em muitas dessas obras não dão peso para isso, simplesmente porque o foco fica em chocar, e não ter uma história boa.

Porém, de tempo em tempos, uma obra aparece e desafia esse meu gosto. E essa obra é Chainsaw Man. Mangá publicado desde dezembro de 2018 por Tatsuki Fujimoto, ele conta a história de Denji, um garoto que, após herdar uma dívida do seu pai com a Yakuza, vive na miséria e é obrigado a caçar demônios com seu parceiro Pochita, um pequeno demônio. Depois de ser traído e ficar entre a vida e a morte, Denji firma um pacto com Pochita e se torna o Homem Motossera.

A premissa é simples, mas o que Fujimoto faz com a história é digno de nota. A obra pode ser lida em diversas camadas. Saindo desde as mais básicas, com as lutas contra os diversos demônios, até as mais profundas, como manipulação, necessidade x desejo, exploração e muitos outros. Tudo isso envelopado em uma animação muito bonita e bem feita, cheia de referências e rimas visuais.

E o filme, que é uma continuação direta da série, apenas melhora as qualidades ditas anteriormente. A película parte exatamente de onde a série parou. Denji está realizando trabalhos para a Segurança Pública do Japão enquanto mora com Aki e Power e tenta conviver com sua paixão por Makima. Tudo muda quando ele conhece Reze, uma garçonete de um café, que vai virar a vida de Denji de cabeça para baixo.

Mesmo sendo uma continuação da série, esse filme até que se sustenta por si. Com uma 1h e 40m, o filme adapta bem as partes importantes da saga. Para algumas pessoas, o início do filme pode ser até arrastado, mas é um tempo necessário. Nele que a gente passa um tempo com os personagens, relembrando um pouco em que estado se encontram os personagens, além de estabelecer as premissas iniciais do filme.

A coisa muda de figura com a entrada da Reze. A relação entre ela e o Denji vai crescendo e amadurecendo até o embate final entre o Chainsaw Man e o Demônio da Bomba. É a Reze que tira nosso personagem principal da zona de conforto e traz o questionamento principal, que é o desejo x necessidade.

O texto é esperto o suficiente para utilizar suas alegorias de maneira inteligente. A principal delas é a discussão sobre o rato da cidade e o rato do campo, que ilustra muito bem a batalha mental do filme. Nela, os personagens ficam se perguntando durante o tempo se eles querem ser um rato do campo, com menos comida e mais segurança, ou ser um rato da cidade, com mais comida e menos segurança.

É interessante como as respostas de cada um dos personagens condiz muito com o momento que eles estão passando. Denji, por exemplo, se contenta muito com o que tem, não se rendendo quando é tentado com mais do que pode. Diferente de Aki, que deseja tudo mais rápido, já que tem pouco tempo até a morte chegar, como o demônio do futuro mostrou para ele.

A animação também se aproveita bastante da caraterística de subtexto. Muito fluida e bem expressiva, é nítido o quanto ela está melhor do que na primeira temporada, tanto nos momentos de conversa, quanto nos momentos de ação. Quando ela está nos momentos de calmaria, ela foca em detalhes, e sempre procura continuar contando a história quando faz isso.

Já nas cenas de batalha, a animação passa sempre a impressão de velocidade e desorientação, sem fazer com que o espectador também fique desorientado. O som auxilia bastante nessa questão, utilizando muitas guitarras e até um dos encerramentos do anime, “Katagiri 2-oku centimeter” da banda Maximum The Hormone, para ambientar o clima. É interesante até como algumas notas acabam acompanhando a ação, com uma série de distorções em momentos cruciais.

Claro que, como em todo anime, esse filme precisa de uma abertura. Quem volta é Kenshi Yonezu, que já tinha criado a abertura da série, com a sua música “Iris Out“, uma baladinha bem upbeat, que te coloca na vibe do filme. A surpresa fica por conta da música de encerramento, que é cantada pelo próprio Kenshi com participação da lenda Hikaru Utada e combina bem com a sensação final do filme.

Sobre a classificação etária, esse não deixa margem para discussão. 18 anos é a classificação correta para ele, não só pelos temas que ele trata, mas também por todas as diversas cenas de violência e nudez. Diferente de Demon Slayer, certeza que esse aqui trabalhou para gabaritar nos pontos da classificação.

Por fim, Chainsaw Man é um filme que evolui a série de todas as maneiras possíveis. Por ser um arco ser uma adaptação de um arco enxuto, o filme pode servir tanto para quem conhece, quando para quem quer ver um bom filme de animação adulta. Só fica de olho na classificação etária, pois esse não levanta discussão.

E você? Me conta o que achou do filme nos comentários.

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